João Carlos M. Madail

Porque os bancos quebram?

João Carlos M. Madail
Economista, Professor, Pesquisador e Diretor da ACP
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Os bancos, como conhecemos, são instituições financeiras que têm como função guardar o dinheiro de clientes de uma forma mais segura e intermediar empréstimos entre poupadores e aqueles que não dispõem, mas precisam dele para alavancar negócios ou mesmo pagar dívidas. Eles podem ser privados ou públicos. Os bancos públicos podem ter algum tipo de participação privada, porém, o capital particular não retira o controle das mãos da instituição pública que tem participação majoritária nesses bancos. Os bancos privados, pelo contrário, são totalmente controlados por instituições privadas. É difícil viver sem qualquer vínculo com um banco, seja na ocasião de fazer um Pix, transferências e depósitos, ou simplesmente não ter um lugar seguro para receber e guardar valores, resultado de negócios ou do próprio salário mensal recebido.

A recente notícia de crises em bancos estrangeiros, especialmente do primeiro deles, o americano Silicon Valley Bank, amplificou no mundo todo o debate em torno da questão da alta da taxa de juros como instrumento de combate à inflação, gerando desconfiança nas populações usuárias das instituições. Ocorre que a alta dos juros nos Estados Unidos está penalizando até mesmo instituições sólidas, como é o caso do Credit Suisse, que anunciou que tomará empréstimo de US$ 54 bilhões junto ao banco central da Suíça, visando reforçar sua liquidez. A Credit Suisse é um dos trinta bancos monitorados pelo International Accounting Standards board (IASB), instituição responsável pela unificação mundial das normas contábeis. Esse monitoramento é importante porque uma crise de grandes proporções numa instituição do tamanho do Credit Suisse representa risco sistêmico à economia mundial, a exemplo do que vivemos em 2008 com a crise do subprime.

A explicação para o que está ocorrendo no mundo bancário parece simples: no momento de inflação global, os bancos centrais do mundo todo estão elevando as taxas de juros o que impacta no valor nominal dos títulos mais baixos. Caso o banco precise vender títulos para fazer dinheiro, significa que ele estará incorrendo em prejuízo. Sensíveis a cenários de incertezas financeiras, com sinalizações de períodos de desvalorização de valores investidos, clientes correm para as instituições bancárias para resgates antes de prazos combinados, num momento cujo valor nominal está abaixo do que o cliente pagou.

Quando muitos clientes começam a realizar saques simultaneamente - e isso vem ocorrendo porque existe uma crise de crédito e as empresas e pessoas físicas são obrigadas a sacar dinheiro investido para fazer frente a compromissos financeiros do dia a dia - o banco pode precisar utilizar suas reservas para corresponder a esta demanda por recursos. Taxa de juros elevada (hoje entre 4,75% a 5% ao ano nos Estados Unidos) e valor nominal dos títulos em baixa é prejuízo que não tem solução. Nesse caso, se o seu banco falir, você pode tanto receber a quantia que tinha em conta, quanto arcar com prejuízo.

Tudo vai depender da quantia que você tiver em conta. Isso porque os bancos são protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), mas essa proteção é limitada a R$ 250 mil por CPF. Para a tranquilidade dos brasileiros usuários de instituições bancárias, o relatório do Itaú BBA, os bancos brasileiros não estão expostos às consequências da falência do SVB. Os analistas afirmam que as perdas de valores para o sistema financeiro brasileiro são irrelevantes e os indicadores de capital e liquidez permanecem confortáveis. Como o problema enfrentado pelos bancos mundiais, no momento, tem origem entre outros fatores no aumento da taxa de juros dos EUA, qualquer mudança nesses percentuais pode aumentar ou reduzir a turbulência e até comprometer outras economias, afinal vive-se num cenário capitalista global.



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